Circo

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Poeta não é gente, é bicho coiso
Que da jaula ou gaiola vadiou
E anda pelo mundo às cambalhotas,
E anda pelo mundo às cambalhotas,
Recordadas do circo que inventou.

Estende no chão a capa que o destapa,
Faz do peito tambor, e rufa, salta,
Ë urso bailarino, mono sábio,
Ave torta de bico e pernalta

Ao fim toca a charanga do poema,
Caixa, fagote, notas arranhadas,
E porque bicho é, bicho lá fica,
A cantar às estrelas apagadas.


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SARAMAGO, José. Os poemas possíveis. 3a. ed. Lisboa: Caminho, 1981.