De paz e de guerra

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Na mão serena que num gesto de onda
Em estátua musical o ar modela.

Na mão torcida que num frio de gelo
A parede do tempo em fundos gritos risca.

Na mão de febre que num suor de chama
Em cinzas vai tornando quanto toca.

Na mão de seda que num afago de asa
Faz abrir os sonhos como fontes de água.

Na tua mão de paz, na tua mão de guerra,
Se já nasceu amor, faz ninho a mágoa.


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SARAMAGO, José. Os poemas possíveis. 3a. ed. Lisboa: Caminho, 1981.