Fuzil e pederneira

+A +/- -A
Na mineral frieza deste sílex,
Pederneira chamado porque duro,
A labareda oculta se recata
À espera do fuzil que a percuta.

Da lisa superfície onde estalam
Os golpes repetidos do meu aço,
Centelhas como gritos se libertam
E morrem sufocadas neste escuro.

Arde lá fora uma fogueira, à espera,
Enquanto eu bato o coração da pedra


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SARAMAGO, José. Os poemas possíveis. 3a. ed. Lisboa: Caminho, 1981.