Não das águas do mar, mas destas outras

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Não das águas do mar, mas destas outras,
Dos lentos remoinhos, onde as fõlhas
Desprendidas e mortas se balouçam;
Do irisado gás gorgolejante,
Que o respirar do lodo vai soltando,
É que a vida dos homens se formou
De sombra e de mistério amalgamada

Na vastidão do mar nasceram deuses:
Somos frutos da lama, água turvada.


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SARAMAGO, José. Os poemas possíveis. 3a. ed. Lisboa: Caminho, 1981.