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O conto da ilha desconhecida
Conto, 1997



Edição brasileira de O conto da ilha desconhecida 
Capa de Hélio de Almeida sobre relevo de Arthur Luiz Piza


























Semelhante a uma parábola, O conto da ilha desconhecida apresenta-nos apenas um fato que se desdobra em dois momentos na narrativa: primeiro acontece de um homem que bate à porta do rei para pedir um barco, no intuito de encontrar uma ilha desconhecida; o segundo marca-se pela concessão do pedido, a busca e o sonho ou o sonho e a busca, marcados na tentativa de encontrar a ilha desconhecida.

O pedido tão simples, assim como são simples os fatos que dele decorrem é o que marca o primeiro momento do texto, é o que desencadeia toda uma história sobre descobrimentos, conforme Gomide (2001), “sobre a possibilidade da criação e sobre a possibilidade do amor.” (p.363) Além destes dois descobrimentos apontados, acrescento mais um descobrimento, este que é a mola propulsora do texto: o descobrimento do ser enquanto ser.

O pedido de um barco pode nos parecer simples à primeira vista, se enxergarmos apenas o pedido, porém, a conseqüência do pedido ou não, que é a aceitação dele, não é assim tão aceitável. Ainda mais quando o pedido é dirigido a um rei no auge da burocracia por um homem da plebe, do povo. Um rei que, ironicamente, para atender a pedidos, colocava-os todos nas mãos da pessoa que ele achava mais insignificante, as mãos da mulher da limpeza. Trata-se, pois, o pedido de uma representação de algo simples, de aceitação difícil, porque ao mesmo tempo apresenta uma inversão (ou subversão) de ordem, porque não é um rei quem pede a um homem para procurar novas terras, como quando do período das grandes navegações, mas é um simples homem que quer um barco para ele mesmo descobrir o que era desconhecido inclusive para ele.


[Nota publica inicialmente no Blog Letras in.verso e.reverso]

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