Ritual

+A +/- -A
Se é altar o poema, sacrifico.
Nesta pedra de lua que é o verso
O cutelo do vivo ganha fio.
Cá virei de joelhos. Não recuso
O veado do prado do meu sonho
Ao dardo violento que o alcança.
Sem a lenha grosseira não há fogo,
Embora as mãos da luz acabem sujas
Da cinza arrefecida das palavras.


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SARAMAGO, José. Os poemas possíveis. 3a. ed. Lisboa: Caminho, 1981.