Há imagens que estão aí. E a imagem das coisas tem muito que ver com a pessoa que somos, com o olhar que temos, com a sensibilidade que transportamos dentro de nós. Quando eu me vi a natureza na minha aldeia da Azinhaga, era uma criança. Uma criança simples e pobre, nem sequer precoce. Mas era sensível e sério. E uma criança séria era um bicho um pouco raro. Estava cheio de melancolia, às vezes de tristeza. Gostava da solidão. Dos longos passeios pelos olivais e pelas margens do rio. Sozinho. Essa imagem da natureza transformada pelo cultivo do homem era a minha imagem do mundo. Quando fui para Lisboa, com dois anos, passava os dias a sonhar com o momento em que poderia voltar à aldeia, que era onde eu descobria as pequenas coisas. Subir a uma árvore pela primeira vez! A sensação deve ter sido idêntica à do Edmund Hillary quando chegou ao Evereste e ficou ali especado, no tecto do mundo. Eu agarrei-me com força ao tronco, com medo porque a árvore se movia, mas o mundo era aquilo e não outra coisa.