Com pesos duvidosos me sujeito
À balança até hoje recusada.
Ë tempo de saber o que mais vale:
Se julgar, assistir, ou ser julgado.
Ponho no prato raso quanto sou,
Matérias, outras não, que me fizeram,
O sonho fugidiço, o desespero
De prender violento ou descuidar
A sombra que me vai medindo os dias;
Ponho a vida tão pouca, o ruim corpo,
Traições naturais e relutâncias,
Ponho o que há de amor, a sua urgência,
O gosto de passar entre as estrelas,
A certeza de ser que só teria,
Se viesses pesar-me, poesia.
________
SARAMAGO, José. Os poemas possíveis. 3a. ed. Lisboa: Caminho, 1981.
À balança até hoje recusada.
Ë tempo de saber o que mais vale:
Se julgar, assistir, ou ser julgado.
Ponho no prato raso quanto sou,
Matérias, outras não, que me fizeram,
O sonho fugidiço, o desespero
De prender violento ou descuidar
A sombra que me vai medindo os dias;
Ponho a vida tão pouca, o ruim corpo,
Traições naturais e relutâncias,
Ponho o que há de amor, a sua urgência,
O gosto de passar entre as estrelas,
A certeza de ser que só teria,
Se viesses pesar-me, poesia.
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SARAMAGO, José. Os poemas possíveis. 3a. ed. Lisboa: Caminho, 1981.