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Manual de pintura e caligrafia
Romance, 1977



Edição brasileira de Manual de pintura e caligrafia.
Capa de Hélio de Almeida sobre relevo de Arthur Luiz Piza


























Manual de pintura e caligrafia é de 1977, anterior, portanto, a obras como Levantado do chão, Memorial do convento, O ano da morte de Ricardo Reis e outras que foram firmando José Saramago como um dos mais importantes e mais conhecidos escritores de ficção portuguesa contemporânea.

O Manual é um romance, embora, como o nome diz, seja também um tratado, no sentido da pedagogia medieval, no bom sentido das obras de Rousseau e no melhor sentido do fingimento pessoano, este de que se faz a arte de imitar o mundo pela pintura, a pintura pela linguagem, a linguagem pelo mundo...

Assim, nas calhas da roda, nas cirandas da mimesis, o Manual é uma autobiografia, um diário, um livro de viagem: ao redor do narrador-autor, em volta de seu quarto, em roda da cultura ibérica, da cultura italiana, em torno do mundo, de suas representações, das representações de suas representações.

Viagem ao redor de autores e obras, de indagações e países, o livro é traz a marca inconfundível do estilo de José Saramago, consagrado pela capacidade estudiosa da observação e da pesquisa histórica, pelo conhecimento das sintaxes e semânticas das épocas, pela espontaneidade construída da narrativa, sempre antiga, sempre atual, no jogo renovado e tenso de suas encenações.

Historicamente, o Manual importa ainda por apontar definitivamente os novos caminhos da ficção portuguesa, desenhados no quadro das mudanças políticas de Portugal e traçados, entre outros rumos, pela superação da prática neo-realista que a literatura vinha conhecendo havia bastantes anos.

Fundamental para se entender a dinâmica da obra de José Saramago, Manual de pintura e caligrafia é sobretudo um romance, como outros do autor, pleno de tensão intelectual e existencial de que resultam a força dos conceitos e das imagens, a satisfação das leituras, o gozo da imaginação, o prazer do texto.


[Carlos Vogt. Orelha da edição brasileira, publicada pela Companhia das Letras, 1992]