Nesta esquina do tempo é que te encontro

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Nesta esquina do tempo é que te encontro,
Ó nocturna ribeira de aguas vivas
Onde os lírios abertos adormecem
A mordência das horas corrosivas

Entre as margens dos braços navegando
Os olhos nas estrelas do teu peito,
Dobro a esquina do tempo que ressurge
Da corrente do corpo em que me deito

Na secreta matriz que te modela,
Um peixe de cristal solta delírios
E como um outro sol paira, brilhando,
Sobre as águas, as margens e os lírios


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SARAMAGO, José. Os poemas possíveis. 3a. ed. Lisboa: Caminho, 1981.