Venho de longe, longe, e canto surdamente

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Venho de longe, longe, e canto surdamente
Esta velha, tão velha, canção de rimas tortas,
E dizes que a cantei a outra gente,
Que outras mãos me abriram outras portas:

Mas, amor, eu venho neste passo
E grito, da lonjura das estradas,
Da poeira mordida e do tremor
Das carnes maltratadas,
Esta nova canção com que renasço.


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SARAMAGO, José. Provavelmente Alegria. 3a. ed. Lisboa: Caminho, 1987