+A +/- -A
Cadernos de Lanzarote - Diário I
Diários, 1994






Capa da edição portuguesa de Cadernos de Lanzarote - Diário 1



























Em abril de 1993, por sugestão de parentes, José Saramago começou a escrever seus diários, sob o título de Cadernos de Lanzarote - a pacata ilha do arquipélago das Canárias para onde se mudara com a companheira Pilar. Desse remoto ponto de observação, o mais importante escritor português vivo passou a comentar consigo mesmo os problemas da literatura e do mundo.

Do exercício íntimo e regular da reflexão desde então desenvolvido, surgiram sucessivamente três volumes dos diários, reunidos aqui num único livro, que engloba os anos de 93, 94 e 95*. Nestas páginas encontra-se, em tom de conversa informal e amistosa, um retrato precioso do autor e do ambiente em que se move. Da notação bem-humorada de fatos corriqueiros, como a adoção de um cachorro de rua ou a visita de um familiar, à discussão de temas graves, como a existência de Deus ou o futuro da Europa unificada, é possível acompanhar em ação a aguda inteligência de Saramago e a maneira ímpar como a expressa.

Mas não só de registros do cotidiano e densas meditações compõem-se estes diários. Entre umas e outras, há o relato dos eventos envolvendo o mundo literário e a atividade profissional do escritor. Saramago fala sobre os bastidores dos prêmios internacionais e se reporta com carinho a colegas como Jorge Amado e Adolfo Bioy Casares, porém não hesita em criticar acidamente desafetos como Autran Dourado e Antonio Tabucchi.

Para os admiradores da obra do romancista, entretanto, talvez ainda mais interessantes sejam as referências a sua solitária busca da expressão literária adequada. No período coberto pelos diários, Saramago estava às voltas com a redação do romance Ensaio sobre a cegueira, e as observações sobre as dúvidas que o assaltavam são uma generosa exposição da oficina literária do autor.

Também comoventes são as cartas que ele transcreve e comenta, de leitores do mundo inteiro dando conta do impacto causado em suas vidas pelos romances de Saramago. Lado a lado com estas manifestações de gratidão e solidariedade, o autor apresenta de modo irônico, as raivosas reações da hierarquia católica e dos espíritos tacanhos a seu O Evangelho segundo Jesus Cristo.


*Diferentemente de Portugal, que saíram edições anuais para Os cadernos de Lanzarote, no Brasil, os volumes foram reunidos em dois tomos, contendo o primeiro os diários 1, 2 e 3, e o segundo os diários 4 e 5.

[texto da orelha do primeiro volume publicado no Brasil pela Companhia das Letras em 1997]