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Cavalaria

Cheguei esporas ao cavalo
E os sentimentos exaustos
Deram saltos no regalo
Das gualdrapas e dos faustos

A relva cheirava a palha
Desmanchei rosas vermelhas
Mas pasto foi maravalha
Sabia ao sarro das selhas

Porque o cavalo era eu
O cansaço e as esporas
Tudo eu e a cor do céu
Mais o gosto das maoras

Relinchos eram os versos
Com jeito de ferradura
Que fazia por dar sorte
Mas tantos foram reversos
Que o ventro da serradura
Deu um estoiro deu a morte

Cai a montada no chão
Cai por terra o cavaleiro
Que era eu (como se viu)
Da escola de equitação
Vim ao saber verdadeiro
Das transparências do rio



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SARAMAGO, José. Provavelmente Alegria. 3a. ed. Lisboa: Caminho, 1987.