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Julieta a Romeu

É tarde, amor, o vento se levanta,
A escura madrugada vem nascendo,
Só a noite foi nossa claridade.
Já não serei quem fui, o que seremos
Contra o mundo há-de ser, que nos rejeita,
Culpados de inventar a liberdade.

Romeu a Julieta

Eu vou, amor, mas deixo cá a vida,
No calor desta cama que abandono,
Areia dispersada que foi duna.
Se a noite se fez dia, e com a luz
O negro afastamento se interpõe,
A escuridão da morte nos reúna.


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SARAMAGO, José. Os poemas possíveis. 3a. ed. Lisboa: Caminho, 1981.