Lisboa, 5 de Novembro de 1971
Meu caro António Pauloro:
Na minha carta de terça-feira faltou uma indicação e um pedido. Começo por este.
Não sei se conhece Jorge Reis, que tem na rádio francesa um programa para os imigrantes portugueses, o qual programa é das coisas mais sérias que possam conceber-se, tanto pelas intenções como pela realização, e ainda pela massa gigantesca de ouvintes. Basta que lhe diga que o Jorge Reis recebe em média de 150 cartas por dia de trabalhadores portugueses.
Ora, parece-me, sem querer estar a dar ordens em casa alheia, que o Jorge Reis merece receber o "Jornal Fundão". Aliás, compreendi na conversa que tive com ele em Paris que está isolado da informação portuguesa. Quer mandar-lhe o jornal regularmente?
Se sim, aí vai a indicação do endereço:
Jorge Reis
7, avenue Georges Clemenceau
MASSY - 91
E, para terminar: a partir de 31 de Dezembro estarei desempregado da editora. No meu regresso encontrei-me perate um facto consumado (eufemismo equivalente a "facada nas costas") que, por respeito pela minha própria cara, teria de levar-me a demitir-me. Dar-lhe-ei pormenores do caso quando nos encontrarmos.
Se daqui até lá não encontrar outra colocação, estarei dia 2 de Janeiro no zero absoluto. E embora as suas culpas sejam nenhumas, vejo-me obrigado a renovar o pedido que lhe fiz de rever a minha remuneração no seu jornal. É um problema de subsitência que se põe desde já.
O mundo está cheio de safados, sabia?
Um abraço do
José Saramago
publicado inicialmente na Revista Colóquio Letras, n. 151-152, 1998.
publicado inicialmente na Revista Colóquio Letras, n. 151-152, 1998.