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Nesse lançamento da Editora Unesp, Gisela Penha faz uma análise profunda daquele que é o romance de José Saramago menos enfocado pela crítica e até mesmo por seu  autor: A Jangada de Pedra (1986). Seu foco é a alegoria como procedimento de construção fundamental de Saramago, segundo a ótica do narrador do romance. É feita assim uma análise da obra na qual ela própria se oferece como alegoria da modernidade para focar a identidade cultural portuguesa.

Segundo a autora, é a "escrita labiríntica e enigmática de Saramago que nos incita a mergulhar nesse romance". É conhecida a recorrência com que a ficção de Saramago utiliza a alegoria como procedimento em vários de seus romances, pela crítica que está inserida em sua obra. Entretanto, o alegórico não deveria ser visto apenas como figura retórica, atendendo a conceituações genéricas, mas como resolução estética em sintonia com um contexto específico, em que o símbolo se expande para assumir formas e sentidos solicitados por um olhar único: o do narrador colocado na cena da escrita. Eis o que nos oferece o livro de Gisela Penha.

Ela começa seu texto com reflexões teóricas sobre a alegoria, para em seguida fazer um exame detalhado de cada capítulo de Jangada, expondo o modo como se dá o jogo de sentidos entre o literal e o figurado na obra de Saramago. Ao chegar ao último capítulo, Gisela pensa as "funções da Jangada" e suas relações com o movimento da linguagem e com a cultura portuguesa. Assim, ao romance embasado em uma construção alegórica, junta-se o universo de Portugal, país que histórica e culturalmente ainda demanda um olhar que enxergue sua identidade em busca de remodelação.