Durante muito tempo, os principais - e quase únicos - estudos sobre a literatura portuguesa contemporânea vieram-nos do Brasil. Hoje, o panorama mudou um pouco. Mas não deixa de ser curioso que o primeiro estudo de fôlego sobre José Saramago - que é, pense-se o que pensar, o único autor português que tem projecção internacional - nos venha ainda do Brasil.
O tema deste ensaio é o das relações entre História e ficção, e o seu corpus, os três romances de Saramago, onde essas relações constituem o próprio núcleo da obra: Levantado do chão, Memorial do convento e O ano da morte de Ricardo Reis.
A paixão crítica é enorme, nem era preciso que A. o confessasse: cada frase mostra-o claramente que o discurso é por vezes arrastado para o campo estilístico da escrita de Saramago, como que desmentindo a ideia de que o trabalho académico é obrigatoriamente um saber sem sabor.
[MOURÃO, Luís. Resenha sobre José Saramago entre a história e a ficção: uma saga de portugueses, de Teresa Cristina Cerdeira (fragmento). In: Colóquio/Letras. n. 113-114, jan.1990, p.225-226]