+A +/- -A
Grande favorito ganha Prêmio Nobel da Literatura


O Prêmio Nobel da Literatura foi atribuído em Estocolmo ao grande favorito, o escritor português José Saramago.

Saramago, 76 anos, um romancista que irrompeu na cena literária apenas há 16 anos, estava no topo das listas dos candidatos há vários anos - fato que parecia desqualificá-lo aos olhos dos jurados da Academia, provocadores de controvérsia. O ano passado surpreenderam o mundo ao entregar o cheque ao «dramaturgo do povo» italiano, Dario Fo.

Há muito que Saramago tinha sido indicado como provável vencedor do Prêmio Nobel da Literatura pelo The Independent. Em 1993 foi galardoado com o Prêmio de Ficção Estrangeira do The Independent, pelo seu romance O Ano da Morte de Ricardo Reis, depois de ter sido pré-seleccionado para o prêmio em Setembro de 1992.

Houve um ar de profunda desilusão nas caras dos literati reunidos ontem no sumtuoso Grande Salão da Academia sueca. Talvez os jurados tenham, apesar de tudo, sido sensíveis à controvérsia gerada pelas suas ações. Qualquer que fosse o seu motivo, Saramago foi a escolha mais segura.

A única crítica que poderia ser tecida a esta escolha é que o autor português é o segundo esquerdista sul-europeu, e o quarto europeu consecutivo a receber o prêmio - mas a Academia sempre negou ter tendência para simbolismos.

A mítica poetisa asiática, supostamente sempre a próxima a receber o prêmio, vai ter que esperar mais um ano.

«O nosso critério é exclusivamente literário», declarou Sture Allen, o secretário permanente da Academia, na noite da proclamação. Por esta bitola, não pode haver dúvidas quanto à escolha de Saramago que, segundo o elogio oficial, usa um vasto leque de «parábolas suportadas pela criatividade, compaixão e ironia».

«O desenvolvimento idiossincrático do seu ressonante estilo próprio dá-lhe um lugar de excelência», dizia a declaração da academia. «Por toda a sua independência, Saramago invoca a tradição de um modo que... pode ser descrito como radical.

A sua obra assemelha-se a uma série de projetos, com cada um, mais ou menos, a contradizer os outros, mas todos envolvendo uma nova tentativa de debater-se com uma realidade ilusória».

Sobre o Ensaio sobre a cegueira, um dos seus mais recentes trabalhos, o louvor dizia: «A imaginação exuberante, o capricho e a perspicácia de Saramago estão no seu auge nesta obra irracionalmente cativante».

Os 18 membros da Academia sueca, tendo em conta o último testamento de Alfred Nobel, escolhem o vencedor de cada ano a partir de nomeações recebidas por outros membros da Academia e antigos laureados Nobel de todo o mundo. Os membros confiam, até certo ponto, nos conselhos de uma rede de peritos, e é esperado que leiam apenas as obras dos cinco ou seis candidatos que são secretamente pré-selecionados por uma comissão com seis membros.

O Prêmio de Literatura reconhece a escrita que caminha «num sentido ideal». Ao longo dos anos, o Prêmio Nobel tem sido atribuído a escritores com uma visão do mundo que se estende desde a fraca futilidade de Samuel Beckett às vívidas epopeias do islandês Halldor Laxness.

Galardoados anteriores incluem Winston Churchill e Bertrand Russell, que não escreviam ficção nem poesia.



Reportagem de Imre Karacs para The Independent, 9 de Outubro de 1998.